terça-feira, 19 de junho de 2012

Carta de Lula para a Arena Socioambiental da Rio+20



Era para o presidente Lula falar pessoalmente, mas como está com recomendação médica de repouso na voz para acabar de desinflamar a laringe, ele enviou uma carta para a abertura da Arena Socioambiental da Rio + 20, que aconteceu na manhã deste sábado (16), no Rio de Janeiro.

A participação de Lula na Rio + 20 será na quarta-feira (20), quando se encontrará com o presidente da França, François Hollande, e assistirá a abertura oficial da Conferência pela presidenta Dilma. Na quinta-feira (21), Lula participa de um jantar de confraternização oferecido pela Prefeitura do Rio de Janeiro para chefes de Estado e governos da África.

Em sua carta, Lula diz que “o mundo vive o momento de discutir e resolver a equação de como crescer, incluir marginalizados do sistema e da sociedade de consumo, e preservar o planeta. Esse é o desafio do nosso tempo, o legado que temos de deixar para as gerações futuras.”

Eis a íntegra da carta:



“Cara ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campelo;


Cara ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira;


Caro ministro do Desenvolvimento Agrário, Pepe Vargas,


Amigas e amigos,


O mundo vive o momento de discutir e resolver a equação de como crescer, incluir marginalizados do sistema e da sociedade de consumo, e preservar o planeta.


Esse é o desafio do nosso tempo, o legado que temos de deixar para as gerações futuras.


A Rio+20 tem autonomia, poder e credibilidade para enfrentar estes desafios e construir uma agenda de desenvolvimento sustentável.


A Arena Socioambiental, inaugurada hoje, vai ser um espaço importante de discussão de políticas entre governos, movimentos sociais e as organizações da sociedade civil. Esses setores têm um papel fundamental na construção dessa sustentabilidade. Têm o papel de educar pessoas e estimular a vontade política de governantes para trabalhar em favor de toda a humanidade.


O ponto zero dessa ação deve ser a preservação da nossa biodiversidade, e o reconhecimento de que o acesso aos recursos naturais do planeta e aos alimentos nele produzidos é um direito de cada um dos que aqui habitam.


Tenho a convicção de que justiça é a palavra-chave dessa equação. O único futuro possível para a humanidade é o proporcionado pela justiça. E, por justiça, todas as bocas do mundo devem ter alimentos suficientes. Por justiça, todos os homens e mulheres do planeta devem usufruir dos recursos naturais disponíveis sem degradar o ambiente e comprometer o futuro de filhos e netos.


A crise financeira mundial que se arrasta desde 2008 está fazendo um grande estrago e levando uma boa parte da população mundial para uma pobreza que o mundo desenvolvido já havia se esquecido como era. É uma situação dramática, mas que tem um lado revelador.


A crise atual expõe um mundo fragilizado pela enorme concentração de renda nas mãos de poucos países e poucas pessoas, e por uma ordem em que poucos consomem muitos recursos naturais e muitos pagam o preço da degradação do meio ambiente.


A modernidade é vista como a era do consumo, mas esse estereótipo esconde uma realidade dura. Não são todos os que consomem.


A realidade dos últimos 30 anos é cruel: 10% da população global detêm 57% da renda global. É esse décimo da humanidade que é responsável por metade das emissões globais de carbono.


O avanço científico e tecnológico conquistado pelo mundo é suficiente para acabar com a fome, para recuperar as áreas degradas e para tomar medidas para prevenir a maior deterioração do meio ambiente. Para isso, no entanto, é preciso de vontade política.


Eu acredito que a maior carência do mundo hoje é a de vontade política dos governantes.


A vontade política, no entanto, é um imperativo. Graças a ela, já contamos às dezenas os países que encontraram a via do desenvolvimento. Na África, na América Latina e na Ásia,nas regiões que durante muito tempo foram vistas meramente como fornecedoras de matérias primas para o mundo desenvolvido, centenas de milhões de pessoas começam a ter uma vida melhor. Mas ainda falta muito.


O Brasil tem exemplos a dar nessa Conferência que reúne governantes de países ricos, pobres e em desenvolvimento; técnicos, pesquisadores, educadores, instituições, entidades populares, sindicatos, associações, organizações não governamentais de todos os pontos do planeta. O país integrou suas agendas econômica, social e de preservação do meio ambiente.


No meu governo e no da presidenta Dilma Rousseff, 28 milhões de brasileiros saíram da pobreza e quase40 milhões entraram na classe média. Ao mesmo tempo em que faz esse esforço de inclusão social e crescimento econômico, o país assume sua responsabilidade frente às emissões de gases de efeito estufa.


Em 2009, na Conferência do Clima em Copenhagen, apresentamos metas voluntárias de redução da emissão de 36,1% e 36,9% até 2020. Até 2016, devemos cumprir a meta.


É indispensável que sejam construídos novos mecanismos e instrumentos de regulação para reverter as tendências atuais. E que todos os países deem a sua contribuição.


Para mudar esse modelo, é preciso construir um amplo acordo político e social. Esse é o momento.


Eu lamento não estar pessoalmente nesse Fórum. Infelizmente, ainda estou passando por um processo de recuperação de meu tratamento de saúde. Não poderei participar de todos os eventos que considero importantes na Rio mais 20.


Levo até vocês, todavia, por meio dessa carta, o meu compromisso com as causas da Rio mais 20,e minhas sinceras esperanças de que daqui saiam as novas luzes para a criação de um planeta solidário.
Essa é uma missão para toda a sociedade, suas instituições, suas organizações e suas lideranças. Em especial o crescente engajamento de amplos setores da sociedade, refletidos neste encontro, é o que efetivamente garantirá este avanço.


O governo brasileiro, comandado pela presidenta Dilma Rousseff, certamente fará a sua parte.”